Confesso que é um pouco engraçado o fato de eu ter proposto e elaborado um projeto em que o principal "produto" / resultado é um mapa. Quem me conhece um pouco mais sabe que sou péssima em me localizar geograficamente, tenho uma dificuldade imensa com direita e esquerda e sempre saio para o lado errado da loja que acabei de entrar.
Minha família nunca entendeu como eu conseguia me perder em Rio Grande, afinal é uma cidade pequena. Não sei também ao certo, mas tenho muitas histórias que narram episódios tragicômicos de quando me perdi. Para mim sempre foi mais fácil localizar a partir das referências: "na frente da padaria", "quase na altura do colégio" e assim por diante. Nome de ruas e indicações como "na altura da rua tal" nunca funcionaram para mim.
Talvez tenha sido por isso que, de forma inconsciente, tenha proposto a elaboração de um mapa com a localização dessas referências. Talvez tenha sido para dar sentido às minhas perdas e caminhadas tentando encontrar um ponto, e eu mesma.
Quando eu comecei a andar sozinha, por volta dos 12 anos de idade, ganhei um mini mapa para facilitar as minhas andanças. Afinal, naquela época a gente nem sonhava em poder andar com gps e um mapa no celular. Então eu andava com esse mapa que se abria e mostrava a "peninsula" de Rio Grande e seus bairros, dentro da carteira e da mochila. Precisei utilizá-lo mais vezes do que gostaria, mas com o tempo fui também aprendendo tanto a me achar, quanto a me perder.
Muito embora se perder em Rio Grande nunca tenha sido muito seguro, eu passei a andar observando alguns prédios e, pasmem, isso me ajudou muito na construção das minhas referências espaciais e geográficas. Alguns ficaram muito marcados na minha memória e, conforme fui crescendo (e pesquisando) passei a retomar essas lembranças e esses questionamentos.
"Ah... quer dizer que esse prédio é que foi uma fábrica?"
"Nossa, eu lembro de passar aqui quando criança"
Apenas para citar algumas referências que hoje consigo facilimente identificar: Sobrado da família Ballester (Presidente Vargas) onde também funcionou parte da fábrica; Fábrica de Cordas (Domingos de Almeida); Casas operárias da Ítalo-brasileira (João Alfredo), a chaminé da Ítalo (antigo BIG) e assim por diante.
Quando iniciei a pesquisa do Caminho fabril, não tinha a dimensão de que isso seria tão importante para mim, e para outras pessoas. Não imaginava que um mapa podia, novamente, fazer tanto sentido para que eu me encontrasse, de fato, em todos os sentidos possíveis.
Desde então caminhar pela cidade tem um novo significado para mim. E, cada vez mais, observo cada rua, cada prédio, cada casa, cada elemento perdido buscando identificar um passado fabril e operário. Assim como uso o mapa, que eu mesma criei, para dar novos sentidos às ruas e locais que tanto caminhei.
Talvez tu te pergunte se eu continuo me perdendo... e sim, continuo. Mas, talvez isso não seja um grande problema, talvez faça parte de como eu me desloco, e me acho por aqui. Agora usando novas referências, dando nome a locais que antes não sabia sua história. Isso, para mim, vale muito.
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