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  • Foto do escritorCaminho Fabril Rio Grande

Só existem memórias boas no patrimônio industrial?

Numa cidade como Rio Grande, que já foi conhecida por "cidade das chaminés" e que teve centenas de fábricas, não é difícil encontrar pessoas que lembrem desse período.

As memórias do passado industrial são múltiplas e diversas. Algumas boas, outras ruins e a maioria com muitas camadas entre os dois opostos.


Quando lembramos de algo do passado, esse ato de lembrar envolve muitos fatores.


Nesse processo, a gente acaba destacando e dando mais importância para alguns acontecimentos em detrimento a outros. Sabe quando a gente lembra de alguém que já morreu? E que, por mais que essa pessoa tenha feito algumas coisas que não gostamos, que tenha nos deixado triste ou feito coisas que reprovamos, a gente tende a dar mais ênfase para as coisas boas depois que ela morre? Com o passado industrial também pode acontecer a mesma coisa. Não é regra, cada pessoa pode lembrar e narrar suas vivências a partir da sua visão e experiência, mas é muito comum.


Isso não significa que no passado industrial só existessem coisas boas e que todas as pessoas eram felizes o tempo inteiro. Muito pelo contrário, ao falarmos de passado industrial estamos falando da consolidação de um sistema capitalista que possui a exploração do trabalho, os baixos salários, as dificuldades, a poluição, o medo do desemprego, dentre tantas outras questões de violência e opressão. Mas, no jogo natural da memória, nem sempre as coisas ruins aparecem.


Às vezes é difícil lembrar do que era ruim, pois acabamos dando mais importância ao que gostávamos e ao que era bom: ter um emprego, um salário, as amizades, etc. Também podemos trazer os dois lados, bons e ruins, por exemplo: "era difícil, ganhava pouco, mas era bom e tenho saudade". Fazemos isso com vários aspectos da nossa vida, principalmente quando lembramos de algo que já faz muito tempo, como a infância ou a juventude.


Isso também pode acontecer por outro fator: comparação. Quando lembramos de algo, lembramos sempre a partir do presente e acabamos sendo influenciados por como está o presente quando olhamos para o passado. Por exemplo: se o presente está em crise e tem muito desemprego, isso pode influenciar na visão sobre o momento em que tinha muita oferta de trabalho.


Tudo vai depender de quem está lembrando, em que momento da vida, como está o ambiente em que ela está, quais foram suas experiências, vivências, relações e como ela construiu sua vida depois disso. Depende também para quem ela está contando, afinal, não contamos tudo da nossa vida para todo mundo, não é?


Por isso, é importante saber que o patrimônio industrial não possui só boas memórias. Mas é importante também entendermos que a memória é muito complexa e que não pode ser vista de forma simplista, no preto ou no branco. Precisamos evitar julgar e hierarquizar as memórias do trabalho e dos trabalhadores, mas podemos sempre estudar, analisar, observar e compreender o porquê delas lembrarem mais das coisas boas ou ruins.





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