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O que é patrimônio industrial?

Foto do escritor: Caminho Fabril Rio GrandeCaminho Fabril Rio Grande

Atualizado: 25 de jan. de 2024

Talvez você já tenha ouvido falar no termo patrimônio cultural, ou patrimônio histórico, afinal, essa palavra é constantemente utilizada em diversos ambientes, por várias pessoas e interesses diferentes. Mas e patrimônio industrial, você já ouviu?


Bom, hoje vamos tentar entender um pouco sobre o que é esse conceito, como ele surgiu e como ele tem sido desenvolvido e preservado nos últimos anos.


Sabemos que desde a Revolução Industrial muitos países passaram por processos de industrialização. Em diferentes momentos e ritmos, muitas fábricas passaram a fazer parte da vida e da paisagem dos lugares. Elas alteraram profundamente a forma como vivemos e nos relacionamos. As cidades que passaram pelo processo de industrialização passaram a ter sua vida e rotina guiada pelos apitos das chaminés, pelas jornadas de trabalho, pelas demandas de produção, pelas greves, crises, acidentes, pela alteração no transporte e pela implementação do capitalismo industrial.


No Brasil esse processo se iniciou de forma muito lenta e pontual no final do século XIX, mas foi só a partir de 1930 que a industrialização tomou proporções nacionais. Nos anos 1950, 60  e 1970 o cenário industrial passou por uma grande crise, e isso foi sentido em diversos países. Assim, cidades industriais do mundo inteiro enfrentaram o fechamento total ou parcial de fábricas, além do desemprego, baixos salários ou falta de pagamento dos trabalhadores e trabalhadoras. Nós chamamos esse momento de desindustrialização, pois foi quando muitas cidades deixaram de ter seus complexos fabris funcionando. Isso ocorreu por diferentes fatores: econômicos, sociais, políticos e tecnológicos.


Nesse cenário, muitos desses locais de produção e de vida operária foram sendo abandonados ou destruídos. E foi nesse momento que se iniciou o debate sobre um novo tipo de patrimônio: o industrial. Afinal, apesar de não terem a mesma arquitetura de muitos prédios reconhecidos como patrimônio, ou de muitos não serem tão antigos, o reconhecimento estava no seu valor histórico, memorial, identitário e também afetivo.


Diferentes áreas do conhecimento contribuíram para a defesa desse patrimônio e sua definição. Também foram criadas associações, instituições e organizações em vários locais do mundo, para estudar e preservar o patrimônio industrial.  Sendo o principal deles o Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial, o TICCIH, fundado em 1973 na Inglaterra.  Em 2003 este comitê foi responsável por redigir a Carta de Nizhny Tagil sobre o patrimônio industrial, que é um dos primeiros e principais documentos que define oficialmente o que é patrimônio industrial e estipula diretrizes para sua preservação:


O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de  processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram actividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.

Outro documento importante é o chamado “Princípios de Dublin” de 2011, pois ele atualiza algumas questões nessa definição de patrimônio industrial, como a inclusão da paisagem cultural, do aspecto imaterial, das memórias, dos locais da classe trabalhadora e sua organização, e os conhecimentos técnicos. 


Por isso, é importante pensarmos que o patrimônio industrial não deve ser reduzido apenas ao prédio ou à fábrica. Pois entendemos que todos os vestígios (materiais e imateriais) dos processos de industrialização, fazem parte do patrimônio industrial. Isso inclui: objetos, máquinas, memórias, produtos, sensações, experiências… assim como sindicatos, casas, jornais, associações, escolas, clubes, esportes de lazer, de luta… e outros setores envolvidos na industrialização; transporte, energia, etc.


Afinal, tudo isso faz parte de uma vivência e de um passado fabril e operário. A autora alemã Andrea Muehlebach trabalha com a ideia da cidade industrial como uma grande engrenagem, em que tudo está conectado (direta ou indiretamente). 


Mas, é claro, que essa tipologia de patrimônio carrega também conflitos, disputas e muitos desafios. Sabemos que as fábricas, por exemplo, são prédios grandes e que quando estão muito abandonados, exigem muito investimento para restauração ou preservação. Sabemos também que as memórias e narrativas sobre o passado industrial não são homogêneas, e muitas podem carregar lembranças difíceis e traumáticas da rotina de trabalho.  Por outro lado, há também as memórias afetivas e nostálgicas: das amizades, do emprego, da juventude, da cidade… 


Tudo isso faz parte do patrimônio industrial e é tão importante quanto aquilo que podemos tocar. Elas são importantes para compreendermos a nossa sociedade, o passado e o presente.  


Uma questão fundamental é sabermos que a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras estiveram à margem das narrativas oficiais da história e do patrimônio de suas cidades. Suas memórias e contribuições foram consideradas irrelevantes quando comparadas a outras pessoas e setores. Mas através do patrimônio industrial é possível incluir tais narrativas dentro do cenário político, econômico, social, patrimonial e identitário. Trabalhar questões como a autoestima, o pertencimento, valorizar essas experiências, sejam elas boas ou ruins.


Gostou? Esse trecho foi retirado do roteiro que deu origem ao vídeo que eu gravei para o canal HISTORIAR-SE




 

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Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural

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